Pode parecer piada, mas tenho certeza de que você conhece alguém que, todo santo ano, promete metas para uma vida melhor — e não as alcança. Assim como as festividades e as simpatias do Réveillon, as resoluções de ano novo fazem parte do calendário de muita gente. Inclusive do meu.
Esse assunto sempre me fascinou tanto que, tempos atrás, comecei a escrever um livro sobre ele, claro que pelo olhar da ciência. No fim, mudei a direção do projeto, mas as descobertas feitas durante o processo foram tão interessantes que acabaram se tornando um capítulo inteiro dedicado às resoluções de ano novo.
Meu interesse no tema nasceu de uma pergunta simples: por que tantas resoluções fracassam? E, mais importante, por que continuamos insistindo nelas? Há várias explicações: procrastinação, metas irrealistas, excesso de objetivos simultâneos, falta de força de vontade, baixa motivação, dificuldade em implementar novos hábitos... a lista é longa.
Mesmo assim, há algo de poderoso nas resoluções de ano novo. Concordo plenamente com a cientista comportamental Katy Milkman, autora do livro "Como Mudar" (2022, Editora Objetiva): graças às resoluções, muitas pessoas de fato conseguem transformar suas vidas. E é justamente isso que inspirou o título deste texto.
O Efeito Recomeço
A ciência explica que uma das razões para o sucesso (ou potencial) das resoluções está no que os pesquisadores chamam de "efeito recomeço" (fresh start effect). A ideia parte do princípio de que todos nós vivemos por ciclos. Enxergamos marcos temporais em nossa jornada pessoal que nos ajudam a virar a página e seguir em frente.
Esses marcos podem ser uma data especial, como o início de um novo ano, um aniversário, a chegada de uma segunda-feira, o começo de um mês ou até eventos mais significativos, como começar um novo emprego, iniciar um relacionamento, mudar de cidade ou superar uma doença ou tragédia. Essas transições criam a sensação de "passar a régua", começar de novo e deixar o passado para trás.
Quer um exemplo? Quando meu filho ainda era pequeno, prometeu que no Natal entregaria sua chupeta ao Papai Noel e nunca mais a usaria. Dito e feito. Ele cumpriu a promessa sem voltar atrás.
Segundo Katy Milkman, essas datas e momentos carregam um forte potencial de mobilização. Criamos "episódios" e narrativas que nos ajudam a estruturar nossos desejos e transformá-los em ações. E sabe o mais interessante? Isso realmente funciona melhor do que tentar começar algo em um dia qualquer.
Por que não desistir das resoluções?
Mesmo com os incontáveis fracassos das resoluções de ano novo — ou talvez justamente por causa deles —, não devemos subestimá-las. A força de um marco temporal, como o ano novo, pode ser o impulso que faltava para realizarmos uma mudança significativa.
É claro que não basta fazer uma lista de metas e esperar que, por mágica, elas se cumpram. Um planejamento cuidadoso, com metas realistas, específicas e alinhadas aos nossos valores, faz toda a diferença. Além disso, usar o "efeito recomeço" estrategicamente ao longo do ano pode ser uma ferramenta poderosa. Quem disse que você precisa esperar até o próximo Réveillon?
Seja qual for sua resolução, lembre-se: o começo de algo novo é sempre uma oportunidade. E, mesmo que tropeços aconteçam pelo caminho, o que importa é não desistir de tentar novamente. Afinal, o poder das resoluções está, acima de tudo, em nos lembrar de que mudar é possível — e sempre será.
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